Regras Práticas afiam as armas da conquista

O sorriso do ranzinza vive escondido. Mas ele existe. Para que se abra basta usar a frase "você está certo". É mais que uma senha. É uma arma que, além de palavras, dispara também sorrisos, olhares, carinhos ou beijinhos milagrosos. São fórmulas que fazem o motorista grosseiro ignorar a fechada que levou e até o pai pão-duro se transformar num verdadeiro caixa-2. É a sedução – arma para quem usa, armadilha para as "vítimas", arte para os estudiosos.

A psicóloga Susan Leibig Martins, diretora do Susan Leibig Institute, afirma que a sedução está em todos os momentos da vida. "É um poder de negociação que vivemos aperfeiçoando para conseguir o que desejamos", explica. O segredo do aperfeiçoamento é fácil: basta descobrir quais são as carências do outro e satisfaze-los. Ela ensinara essas regras detalhadamente no curso Sedução – A Arte de Influenciar, que será realizado no sábado e no domingo, no Susan Leibig Institute. Segundo Susan, quem não consegue desenvolvera sedução torna-se tímido.

Na sua profissão, o modelo da agência Táxi Carlos Alberto Sergenti, de 28 anos, afirma Ter conquistado muitas chances com a "máscara" da sedução. "Nunca estou mentindo, mas me empenhando para que o meu produto, no caso a foto ou o filme, seduza o diretor do trabalho que quero conquistar", diz. Compõem a "máscara" um sorriso constante, um modo manso de falar e um olhar profundo.

Gracinha – Na disputa de centenas de mulheres pela atenção do garçom na casa noturna Aeroanta, Patida Mauad, de 34 anos, conseguiu ser atendida assim que chegou. "Não entrei no coro do ‘Ô, garçom!’ que o ensurdecia, mas gritei ‘Gracinha!!!!’ e ele me atendeu rapidinho."

Uma estratégia fácil. Afinal, como poderia estar se sentindo um homem mal tratado? Por isso, ele não resistiu quando ouviu uma voz feminina valorizar nele um outro lado de sua pessoa, a beleza. "Seduzir é saber identificar as próprias características e usá-las para motivar o objeto de desejo", explica Susan Martins.

A gerente Áurea Mazza é uma das poucas mulheres que se diz satisfeita com a empregada doméstica. "Aprendi que ela não gostava de ser subestimada e passei a tratá-la com jeitinho e a falar com ela usando de maior atenção." Às vezes não é preciso nem falar. A estudante Karen Kolt, de 24 anos, conta que seu pai não resiste a um carinho nos cabelos. "Enquanto meus dedos enlaçam suas mechas, os dele enlaçam no seu bolso o dinheiro que preciso", conta. "Mas nunca faço isso se não tenho vontade fazer um carinho nele", garante.

Ela está certa. Susan Martins lembra que "quem seduz só será bem-sucedido quando for capaz de satisfazer as carências do outro a ponto de motivá-lo a cumprir o que deseja e também de conseguir sair totalmente satisfeito. As duas pessoas deverão se sentir felizes."

Estratégia feminina é a dissimulação

No avanço das pesquisas, sedução se tornou sinônimo de estratégia para conquistas em todos os campos da vida. Mas a história mostra que a primeira e mais constante vítima da sedução foi e é o amor. Todo homem e toda mulher possuem o porte dessa arma. Mas eles garantem Ter melhor pontaria do que elas. Cansadas de tentar mostrar o contrário, as mulheres recomeçam a se valer da velha sabedoria feminina, que tem como ponto de partida a seguinte regra; seduza sem deixar que ele perceba.

A Editora Saraiva lançou esta semana o livro Arte & Manhas da Sedução, de Marion Vianna Penteado, o pseudônimo de uma socialite experiente o suficiente para dar informações precisas sobre a atual postura adotada pela mulher disposta a conquistar um homem. Marion foi entrevistada pela jornalista Maria Teresa d’Almeida Eça, pela filósofa Magnólia Costa Santos e pela professora de Português Luciana penna que redigiram o livro.

Dissimular é a palavra-chave que Marion usa como sinônimo da "atual" estratégia feminina. Na conquista, elas preferem a esperteza à franqueza e, conseqüentemente, um comportamento recatado ao liberal. "Hoje as mulheres se insinuam, se mostram interessadas, criam situações favoráveis, mas deixam que ele pense que, se tudo não for uma obra dele, é, no máximo, do acaso", diz Magnólia.

Impulso – Depois de passar anos da sua história entre o castigo de permanecer trancada dentro de casa à espera de um marido e a liberdade do outro extremo, querendo recuperar a qualquer custo o tempo perdido, agora a mulher traça caminhos mais seguros para a conquista.

A modelo Kelly Cristhie, de 23 anos, já aprendeu a caminhar por eles. "Se estou interessadaem alguém, até telefono para ele, dou a dica sobre a chance de um passeio, mas deixo pensar que o convite foi dele."

O último passo para conquistar de vez um homem é, segundo a maior parte das mulheres, garantir uma bela despedida depois do primeiro encontro. Kelly Cristie usa uma tática arrojada, predeterminada, mas que os homens não percebem: "Um beijinho no canto da boca sem querer dissimulado. À moda antiga. Assim é a mulher sedutora dos anos 90.

Homens e mulheres têm táticas próprias para a conquista

Eles caem direitinho nas velhas armadilhas e se dizem felizes quando percebem que foram as "vítimas". Há 17 anos, o empresário Antônio Andrade, de 32 anos, foi uma delas. "Uma garotinha de 12 anos me acertou!" Não poderia ser diferente: o nome da menina que o conquistou e o mantém apaixonado até hoje é Eva. "É a minha maçã, o símbolo da sedução."

Andrade apostou com os amigos que namoraria Eva. "Não sabia a idade dela e ela foi tão difícil que acabei me apaixonando perdidamente", conta. Andrade garante: nada atinge mais o coração de um homem que uma mulher não aceitar seu primeiro convite. "mulher difícil é mais interressante." Eva arrastou Andrade ao altar quatro anos depois do início do namoro. "Agi naturalmente e o seduzi usando apenas a sabedoria feminina", afirma. Conquistado o marido, Eva passou a criar estratégias de sedução para o dia-a-dia de casados. "Um telefonema no meio do trabalho dele para dizer que o amo mantém o relacionamento."

Os homens dizem estar havendo uma mudança sensível no comportamento feminino durante as conquistas. Carlos Alberto Sergenti, de 28 anos, acredita que elas estejam reavaliando suas táticas de sedução. Melhor para ele. "Acho mais legal quando é o homem quem conquista porque tudo acontece mais naturalmente." Luiz Antônio Basseto, de 31 anos, também percebeu que as mulheres "deram uma recuada" nos últimos tempos. "Elas perceberam que a igualdade não se estabelece por este caminho porque elas não estão preparadas para segurar a barra." Para Basseto, o gostoso é "deixar acontecer". Traduzindo: a mulher seduz e o homem conquista.

(Márcia Guerreiro)

Fonte: O Estado de São Paulo; Cidades; 13/05/93; pg. 6


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